A situação económico / financeira que atravessa ao espaço europeu, nomeadamente a zona euro, é tudo menos geradora de tranquilidade. A globalização e o mediatismo noticioso, provocam ondas de choque que atravessam o mundo a velocidades inimagináveis a 10, 20 ou 30 anos. Hoje em dia, o simples aflorar de uma ideia, de um pensamento, provoca imediatamente toda a espécie de conjecturas e suposições. Ninguém está imune. Nenhuma organização, instituição, governo ou país.
Sabemos hoje, é do conhecimento geral, que Alemanha e França, sobretudo o primeiro, são os motores económicos da Europa. sabemos hoje, os enormes investimentos e interesses que o governo alemão tem por todo o lado, por todo o mundo financeiro. Sabemos hoje, que toda essa panóplia de situações impede os responsáveis alemães de, pura e simplesmente, deixarem cair no abismo países como Irlanda, Grécia ou Portugal. Que os move a tudo tentar, a tudo fazer, a tudo dizer, com o objectivo único da defesa dos seus interesses. É legitimo que assim seja. Não estamos, de todo, a falar de cêntimos...
Refiro-me então aquilo que para mim foi um choque, decorrente das declarações recentemente proferidas pela Chanceler Alemã.
Que sejam equacionadas ou mesmo aplicadas sanções a países in-cumpridores, aos que não atinjam as metas estabelecidas, é aceitável e compreensivo. Para isso discute-se, firmam-se acordos, criam-se objectivos. Ouvir de um alta responsável a ideia, a insinuação, a afirmação de que países in-cumpridores sejam privados de parte da sua soberania, é inaceitável, Intolerável!
Não estamos a falar de crianças ou jovens a quem se retira a mesada ou a quem se inflige um castigo. Não falamos da privação temporária deste ou daquele equipamento multimédia ou de uma saída nocturna com amigos.O que está em jogo nas declarações de Ângela Merkel, é a soberania, a independência de países. E se pensarmos que em muitos casos essa soberania está já ameaçada, o que mais podemos pensar. Que malévola ideia estará camuflada em tais declarações? Estaria a Chanceler Alemã a pensar na transformação de países como Grécia e Portugal, em meras províncias europeias? Em meras estâncias turísticas Bávaras?No domínio económico, financeiro, político?
Haja decência senhores...haja bom senso!
Irlanda, Grécia, Portugal ... mas também Espanha e Itália, são Nações soberanas. Com história!
Têm problemas sérios, graves, de difícil resolução...têm! Comprometeram-se a resolvê-los, uns com maior outros com menor facilidade... É verdade!
Foi uma tirada infeliz e impensável. Uma declaração que vinda da líder de um país com enormíssimas responsabilidades na segunda guerra mundial, ficou e caiu muito mal.
Ângela Merkel sabe que a Alemanha não pode falhar. Sabe que terá de fazer tudo para evitar a perda por parte da Alemanha, governos e instituições financeiras, de tudo quanto têm investido no exterior. Sabe que o seu próprio "poder" está em em risco. Que surge já no horizonte a existência um buraco financeiro nas contas germânicas de mais de 5 biliões de euros.
Por isso, não posso pactuar com semelhante enormidade!
Cabe aqui a velha máxima: «quem tem telhados de vidro...»